|
1.-O centenário da República constitui uma oportunidade relevante para divulgar a figura do primeiro Presidente da República, Manuel de Arriaga. As entidades regionais, cedo se apressaram a valorizar a efeméride, dado que o ilustre estadista nasceu nos Açores.
Onde? É uma questão que uns comprovam com a certidão de baptismo realizado na Horta e não admitem sobre o assunto colocar qualquer dúvida.
Parece, todavia, ganhar mais consistência a tese há muito defendida por figuras ilustres que Manuel de Arriaga nasceu, efectivamente, no Pico, na casa de veraneio que os Arriagas tinham no lugar do Guindaste, freguesia da Candelária.
Em cinco interessantes e bem fundamentados artigos, publicados no jornal Ilha Maior, o picoense José Carlos Costa, retomou a investigação sobre este tema desenvolvida “durante mais de duas décadas e meia”. Citando fontes e testemunhos orais obtidos junto de “idosos da minha terra” , pessoas que lidaram muito de perto com a família Arriaga, no seu solar do Pico, José C. Costa afirma que MA nasceu, efectivamente, na casa do Guindaste, embora tenha sido baptizado na cidade onde residia a família e de onde eram naturais seus pais.
O tema foi também abordado num suplemento publicado pelo jornal “O Telégrafo”, nos anos 30, organizado pelo Prof. José Inácio Garcia de Lemos, então Presidente da Câmara. Aí é afirmada a verdadeira naturalidade do ilustre republicano quer pelo autarca quer pelo escritor Pe Nunes da Rosa.
O testemunho do historiador General Lacerda Machado é bastante concludente. Em artigo publicado na imprensa picoense, revela uma conversa mantida com uma irmã de Manuel de Arriaga, na sua casa de Verão em São Mateus, segundo a qual foi confirmado que ele nascera no Pico. No entanto, para os senhores da Horta não ficarem zangados, a família Arriaga concedia que ele nascera no Faial.
O assunto merece ser profundamente investigado, pois a história faz-se também com fontes orais. Para mais, é voz corrente na ilha do Pico, sobretudo nos mais idosos, que Manuel de Arriaga viu a luz do dia na casa de veraneio dos Arriagas, no Guindaste.
Espanta-me, por isso, que o Governo no texto de uma deliberação para aquisição de terrenos anexos à casa dos Arriagas, na Horta, mais conhecida por Casa das Florinhas, afirme tratar-se da “casa onde nasceu Manuel de Arriaga”. Será para os “senhores da Horta não ficarem zangados”? Ou será ignorância da entidade que tutela a Cultura que prefere desconhecer estes dados históricos?
Manuel de Arriaga faleceu em Lisboa em 5 de Março de 1917, numa rua que tem o seu nome. Os seus restos mortais foram trasladados para o Panteão Nacional.
Convinha que, pelo menos no Pico fosse resinalizada a casa onde nasceu e passou momentos importantes da sua infância o Primeiro Presidente da República, voltando a colocar a placa que já lá existiu.
2.- Há dias, integrada nas Festas de S.ta Maria Madalena, a ouvidoria do Pico assinalou 550 anos do povoamento da Ilha do Pico, baseada na já reprovada teoria do historiador Pe António Cordeiro, de que a chegada do primeiro homem a esta ilha se dera pela fronteira com o Faial e não pelo sul do Pico, como sustenta Frei Diogo das Chagas no “Espelho Cristalino...”.
Não é a celebração, nem o local que estão em causa. O que contesto é os membros do clero, na sua missão de ensinar os fiéis e o povo, informarem-no incorrectamente, revelando uma inconcebível ignorância da história desta ilha, mesmo após ter sido alertado do erro em que incorria.
De facto, “a ignorância é muito atrevida!...”
Voltar para Crónicas e Artigos |